terça-feira, 14 de julho de 2009

Aula 14/07/2009 - A construção do conhecimento sobre a escrita



Nessa aula, como complementação dos textos de Emília Ferreiro, discutimos o texto “A construção do conhecimento sobre a escrita”, de Ana Teberosky, no qual apresenta a escrita sob o ponto de vista da criança em seu processo inicial de leitura e escrita.

A autora procura analisar de que maneira a criança constrói seu conhecimento no campo da linguagem escrita, através da apresentação diversificada de hipóteses criadas pelas próprias crianças, tendo como base a perspectiva construtiva.

Para que tais conflitos sejam identificados Teberosky utiliza o resultado de seu primeiro trabalho desenvolvido com Ferreiro, em 1979, para demonstrar algumas hipóteses, problemas e inferências geradas na prática a partir da própria expressão da criança como:
1) A criança inicia sua compreensão do sistema alfabético diferenciando o desenho da escrita e separando-os. Essa fase é mais conhecida como a fase de organização das hipóteses sobre as possíveis combinações das letras e sua distribuição nas palavras. Na visão delas, não é possível vincular uma imagem a um texto, uma vez que um texto é constituído por letras e não imagens. É exatamente através dessa diferenciação de material impresso que a criança se utiliza dos dois princípios básicos – o de quantidade mínima, no qual uma palavra não pode ser escrita com apenas uma letra e, o de variedade interna, onde as letras não se repetem, havendo somente uma alternância.

2) A criança, por volta de seus quatro anos, consegue usar a imaginação e dar algumas respostas verbais embasadas na “intencionalidade comunicativa” do texto. Antes dessa idade, o texto é considerado algo não simbólico. No texto, a autora exemplifica com a figura de uma estante com vários compartimentos, no qual há uma variedade de caixas etiquetadas que organizam alguns materiais utilizados em sala de aula. Ex: lápis, colas, tesouras, encaixes, blocos lógicos etc.

3) A criança que ainda não começou a pensar sobre o que pode estar escrito em um determinado texto utiliza muitas perguntas do tipo “o que é?”, enquanto outras se utilizam da pergunta “o que isso quer dizer?”. Isso significa que o primeiro contato da criança com a escrita é através do nome, seja o nome de pessoas ou de objetos.

4) A criança estabelece a distinção entre “o que está escrito” e “o que se pode ler”. Ou seja, a interpretação daquilo que está escrito. Segundo a autora, devido aos espaços em branco entre as palavras, a criança se confunde um pouco, o que favorece essa distinção. Como não entendem a função desses espaços, as crianças não conseguem atribuir uma representação gráfica das palavras.

5) As crianças pré-alfabetizadas, segundo os autores, entendem o “dizer” e o “querer dizer” de forma idêntica. Enquanto que, as crianças alfabetizadas consideram idênticas apenas uma repetição estrita. Isso significa que, para compreenderem a distância entre o “texto literal” e a “interpretação não-literal” é necessário diferenciar o resultado do contato com a linguagem literária ou com a linguagem escrita.

6) A criança que tenta concordar a escrita com o enunciado oral inicia sua hipótese silábica. Isto é, ao tentarem estabelecer a sonoridade da palavra, começam a compreender que as letras correspondem às partes da palavra. Nesse sentido, descobrem a sílaba e inicia-se o processo através da escrita controlada passando pelas escritas silábico-alfabéticas e alfabéticas.

7) As crianças, a partir dos quatro anos, conseguem reproduzir as narrativas verbais dos adultos, enquanto que, aos cinco anos, conseguem não só reproduzir como ditá-las, caracterizando uma “representação da linguagem escrita” precocemente. De acordo com a autora, nessa faixa etária as crianças já conseguem distinguir a narrativa dos diversos gêneros textuais que venham a ser apresentados. É justamente em seu momento de esforço que a criança consegue se apropriar das estruturas linguísticas e das convenções gráficas utilizadas na escrita (p. 58).

8) A criança que ainda não obteve a compreensão da palavra é porque não entendeu que, embora não se utilize o espaço em branco na linguagem oral, é necessário que este apareça na linguagem escrita. Ou seja, não conseguem distinguir a diferença entre uma palavra gráfica e uma palavra oral. Logo, a ideia inicial da criança sobre a palavra gráfica antes de ser alfabetizada se mostra diferente depois desse processo.

Teberosky acrescenta o texto relatando a nossa concepção da escrita e da linguagem escrita sob o ponto de vista da aprendizagem. Segundo a autora, embora alguns linguistas e historiadores tenham resistido à visão da escrita como um código gráfico de transcrição dos sons da fala, essa visão tem permanecido através da teoria condutista. Por considerarem a escrita como um sistema de representação da linguagem percebe-se que tanto a representação simbólica quanto a linguagem são afetadas pela escrita. Ou seja, a fala, também influenciada pela leitura e pela escrita, não pode ser observada e nem valorizada de maneira separada neste processo, porque seus escritos serão embasados nesta.

Ao finalizar o texto, a autora exprime a perspectiva construtivista como uma prática mais favorável à eficácia da aprendizagem. Para ela, os dados apresentados permitem afirmar que a aprendizagem efetiva da criança nesse processo de construção da escrita deve levar em conta todo o processo de compreensão da criança, suas hipóteses e suas soluções a fim de que não se refiram as escritas não convencionais como erros ortográficos, por exemplo. Logo, o exercício de observação desse processo na alfabetização possibilita à criança maior curiosidade na compreensão do conhecimento novo que está sendo exposto, assim como valoriza seu próprio conhecimento, independente do nível em que se encontre.

Na sala de aula, um dos pontos levantados que mais contribuíram com a discussão sobre o texto na minha opinião foi a reflexão que o professor incitou sobre as formas tradicionais de ensino que trabalham a escrita ainda hoje com base no nível fonético, no qual a criança é imposta a transcrever palavras que possuem a mesma característica das quais já aprenderam; o que estimula a cópia ou simples reprodução e não a construção do conhecimento que adquiriram ao longo de sua alfabetização.

Um comentário:

  1. Síntese bastante completa e bem articulada com os aspectos apresentados pelo texto. Evidencia que sua compreensão dos textos foi se consolidando com o avanço das reflexões. Muito bom. Parabéns pelas reflexões!

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